O Rif é uma cadeia montanhosa no norte de Marrocos, por onde seguimos, desde a cidade de Chefchauen, num trekking de quatro dias.

Ou seja, neste post falaremos de uma caminhada, percorrendo trilhos em meio a paisagens espetaculares no Parque Nacional de Talassemtane enquanto conhecemos a cultura de seus habitantes, os berberes rifenhos, até alcançarmos uma maravilha natural chamada Ponte de Deus e e cascatas em Akchour, numa incrível cordilheira verde e cheia de segredos no norte da África.

Mulher olha a paisagem da montanha, trekking no Rif, etapa 2
a rota

Existem algumas alternativas de rotas de trekking nas montanhas do Rif, no entanto quase todas se dividem em na altura de Azilane, onde concluímos a primeira etapa de quatro dias de caminhada. Assim sendo, elegemos a rota que conduz pela parte alta da montanha, depois do tradicional e indispensável pequeno almoço marroquino e da primeira azan (chamado para oração), iniciando a caminhada pela Rota de Tisemlale, uma estrada de alta montanha que conecta as cidades de Chauen e Bab Taza, no Parque Nacional de Talassemtane.

a paisagem e os costumes

Para quem imagina que as paisagens marroquinas se restringem ao ocre e os diversos tons de terra, os verdes vales e cascatas do Parque Nacional de Talassemtane é uma surpreendente descoberta.
A montanha também rica em ervas aromáticas, como tomilho e alecrim, o que detém o passo para desfrutar desses aromas e eventualmente colher algumas amostras que podem render um pequeno e belo buque de presente para o anfitrião da etapa. Enquanto vacas pastam livremente até a idade do abate.

Adepto de trekking, olha para o vale com a Ponte de Deus
Trilhas em Marrocos, Cascatas e Ponte de Deus, Akchour
Mulher fazendo trekking nas montanhas do Rif
The hanging rock, montanhas Marrocos
Pessoas caminhando no Parque Nacional de Talassemtane
Guia e homem observando a paisagem, Trekking Marrocos
Vista da montanha, trekking no Rif, Etapa 2
Trekking Rif, Etapa 1
Trekking do Rif, etapa 3, Ponte de Deus
Trilho de caminhada, Cascatas d’akchour, Chefchauen, Marrocos
tradições e contradições

É interessante saber que, até pouco tempo, as cores de Chefchauen, a incrível cidade azul de Marrocos variava entre os tons de ocre da terra e o branco do calcário, existente em abundância na montanha.
Ao mesmo tempo, muitas outras tradições tem mudado na região e da mesma forma que o azul tomou conta da cidade, na montanha alguns cultivos tradicionais, como a plantação de macieira, por exemplo, deu lugar a outro tipo de cultivo. Um cultivo também tradicional, cultural e legal, nessa região do país, no entanto, mais lucrativo e por isso, controverso, o cultivo de canabis. De tal forma que, atualmente, Marrocos é considerado o um dos maiores produtores mundiais de haxixe, e tornou-se uma grande fonte de renda para muitos rifenhos. Contudo, é importante saber que a comercialização não é legal e o consumo é restrito ao povo berberes da montanha.

Homem berbere acendendo o fogo, Rif, Marrocos
algumas considerações 

Antes de concluirmos, salientamos que a companhia de um guia enriquece muito o conhecimento sobre a cultura local. Bem como conduz por zonas específicas e em segurança. 
Além disso, é sempre bom salientar que os bastões de caminhada são grandes aliados, e neste caso, é imprescindível nas etapas 3 e 4. 
Do mesmo modo, mesmo os refúgios oferecendo roupa de cama, é bom sempre levar uma sabata. Mas, sobretudo no inverno, o saco-cama pode ser uma mais valia. Pois com as baixas temperaturas os cobertores nem sempre são eficientes, em construções sem isolamento térmico.

E para terminar, as toalhitas de higiene podem ser grande aliança se não encontrar água quente para o banho.

Portanto, suba a montanha e siga seu ritmo, dessa forma vai descobrir cascatas incríveis é chegar a uma ponte divina. E se precisar contratar um guia, certamente obterá alguma boa indicação no Dar Terrae onde nos hospedamos em Chefchauen. Lá o Bilae certamente indicará alguém que lhe fará sentir-se bem guiado e em segurança, como foi o caso com nosso guia Busta.  Mas se preferir, encontre aqui outras opções de hospedagem em Chefchauen.

👣 16 km Etapa 1 – 4 

Logo após ao camping já estamos na Rota de Tisemlale. E embora seja uma íngreme subida, o frescor do bosque e a palheta de cores que muda do azul de Chefchauen para o verde do Parque Nacional de Talasantane, compensam.
Todavia é importante ressaltar que, em termos gerais, a travessia de 4 dias não é de uma caminhada exigente. Sendo essa primeira a que mais exige em termos de subidas, atingindo os 1800m em torno dos 10 km, por uma pista marcada e de fácil acesso. Certamente, um bom momento para um lanche, enquanto se contempla uma das muitas paisagens espetaculares da etapa até Azilane. Que fica a 1200m e totaliza 16 km.

a paisagem e os costumes

Pois é precisamente pela paisagem que o tempo parece escoar. Além disso, a descida até o Gite d’etape Azilane ser quase tão acentuada quanto fora a subida, as rochas esculpidas pela natureza como, por exemplo a The hanging rock chamam a atenção e diverte.

o acolhimento

Por fim, chegamos ao destino do dia, uma aldeia onde vivem seis famílias e possui uma pequena Mesquita. Quanto a isso, é interessante saber que fora construída por iniciativa e contributo de quem ali vive. Também é mantida com 200 DH mensais, de cada uma, que se divide na tarefa de levar o alimento diária ao responsável pelas orações. Tudo em meio aos afazeres e respectivos cultivos locais.

Semelhante a Chefchauen o refúgio Gite d’etape Azilane segue com a tipica pintura em azul e a fotografia do rei e da família real, é item obrigatório. E enquanto sabores-se o chá, o simpático dono de tudo aquilo alimenta o velho forno para aquecer e espantando o frio do inverno. Enquanto, na cozinha as mulheres providenciam o jantar. O valor da hospedagem incluí o jantar e pequeno almoço com custo de 500dh para duas pessoas.

👣 16 km Etapa 1 – 4 

👣 17 km Etapa 2 – 4  

Nessa segunda etapa de trekking pelo Rif atingimos os 1500m de altitude, com ganho de elevação de 600 metros, bem mais suave que a etapa do dia anterior. As noites de dezembro são bem frias pelo Parque Nacional de Talassemtane, mas nada que os raios de sol do amanhecer que ilumina suas generosas paisagens não espante, enquanto garante às energias para a caminhada com alimentos da aldeia no pequeno almoço e uma despedida calorosa. 
A etapa segue por um passo relativamente fácil, intercalando grandes vistas, entre áreas planas e bosques. Mesmo assim, as baixas temperaturas do inverno ajudam na caminhada, talvez fazê-la no verão gere desconforto.

a vida rural

Ao longo dessa segunda etapa de trekking pelo Rif, nosso guia segue cumprimentando uns e outros. Afinal, nascera por ali onde a vida segue seu ritmo e pouco muda. Sempre atento e atencioso, segue explicando a razão de cada coisa, dentro da lógica local. 
Nos explica que os trabalho são divididos entre homens e mulheres, e a coleta e transporte de lenha utilizadas no forno e na lareira, por exemplo, é um trabalho para mulheres. Como resultado, suas costas ficam tão curvas que na velhice, não conseguem abrir a porta devido ao fardo carregado por toda a vida. De acordo com o guia, o trabalho dos homens é na terra, com o cultivo da canabis e também ir ao mercado. Por outro lado, é das mulheres a tarefa de vender ervas aromáticas, em dias de feiras.🌿 

o ritmo na montanha 

O objetivo dessa etapa é chegar ao Gîte Taourarte, uma casa rural rifenha. No entanto, pode ser que só se perceba a magnitude da beleza deste ponto no amanhecer do dia seguinte. Por isso, vale a pena descansar bem para desfrutar as paisagens de Taourarte.

Porém, é importante ter em consideração que enquanto nas medinas a sonoridade é do chamado à oração, o salá. O batuque que sonoriza a montanha não resulta como interesse coletivo. Por isso é importante ressaltar que há um grande interesse público em diversificar a economia na região, através do turismo rural. Dessa forma, a pernoite deve ser feita em casas rurais. 

Do mesmo modo, o campismo autónomo ou “selvagem” não é estimulado, pois não beneficiar a população local. Nesse sentido também é importante seguir os trilhos marcados e não aventurar-se por outras zonas.

Em suma, apesar de toda beleza dessa etapa, ainda não alcança a melhor e tão esperada cascatas D’Akchour e a Ponte de Deus. Que aguada-nos na próxima etapa.

👣 17 km Etapa 2 – 4  

👣 16 km Etapa 3 – 4 

Enfim chegamos a um dos pontos mágicos desse trekking no Rif, as cascatas. No entanto, não são apenas as cascatas que fazem dessa etapa um dia inesquecível nesse trekking de 4 dias pelo Rif. Ocorre que, sim elas são lindas, mas o caminho até elas pela parte alta da montanha, é fenomenal.

A princípio, despertamos no alto de Taourarte pensando já conhecermos bem o cenário que nos rodeava. No entanto, logo a saída do refúgio, nos deparamos com as inacreditáveis vistas panorâmicas do vale montanhoso, por onde segue o trilho sempre a descer. Seguimos então, num total deslumbramento e contemplação a ouvir apenas o som da natureza, sem nenhuma interferência humana. Contudo, o melhor ainda estava por vir, como coroação da descida desde o alto, a “cascata maior”.

O amanhecer 

À principio, por chegarmos relativamente tarde para os dias de inverno, o entorno do refúgio não chamou a atenção no dia anterior, salvo o cheiro a pão que emanava o forno ainda quente. No entanto, na manhã seguinte, percebemos a vista esplendorosa e todo cenário de vida rural em torno da casa. Em primeiro lugar as galinhas soltas pelo quintal, uma funda artesanal feita em palha, mais a frente, troncos devidamente posicionados para impedir a passagem das vacas para áreas de difícil acesso na montanha, evidênciam a riqueza da vida rural, pelas florestas da montanhas.

A etapa

Entretanto, essa é uma etapa que exige conhecimento sobre a atividade de trekking e, certamente, um das mais bonitas desse percurso de quatro dias de trekking no Parque Nacional de Talenssantane. Pois, associado ao esforço físico em longas caminhadas, a essência do trekking consiste em caminhar ao ar livre, em meio a natureza. De forma que quanto mais hostil e isolado o trajeto, mais interessante é a experiência da caminhada pelo local. Logo, temos aqui um belo exemplo de etapa de trekking.

Naturalmente territórios acidentados sempre exigem maior atenção. Sobretudo, em terrenos com pouca ou nenhuma interferência humana, que podem ser íngremes, escorregadios entre outros fatores. Contudo, essa experiência mais radical de contacto e imersão na natureza, compensa com vistas e paisagem sempre de tirar o fôlego.

Nesse sentido, a parte mais difícil é justamente o último trecho, já junto a cascata maior. A companhia de uma guia local, é a única e mais segura foram-se percorre-lo.

as cascatas

A chegada a cascata maior é a coroação de um lindo dia de caminhada. Emergimos num verde vale seguindo ao longo do Rio Kelaa, e passando por várias cascatas menores num trilho fácil. O trekking para as cascatas do Rif também pode ser iniciado em Akchour.

O vale é frequentado por famílias e pessoas de todas as idades, em divisoras épocas do ano. Mas, sobretudo no verão.

Depois de um dia intenso com muitas paisagens, e também muitas paragens, chegamos nas proximidades da ponte de Deus mais tarde que o esperado. Considerando que ela está localizado num vale, ao fim do dia não há muita luminosidade. De forma que era preciso acelerar o passo sobre pedras molhadas. Sendo assim, reservamos nosso quarto e último dia de caminhada pelo Riff, inteiramente a Ponte de Deus, ascendendo desde o alto da montanha, atravessardo-a, e depois, desfrutar da vista inferior com uma melhor luminosidade.

Por isso, não deixe de ver a próxima e última etapa desse trekking pela cordilheira do Rif.

👣 16 km Etapa 3 – 4 

👣  km Etapa 4 – 4 

Enfim chegamos ao ponto mágico desse trekking no Rif, a Ponte de Deus. Contudo, alcançar o alto da montanha, exige esforço e persistência e passo a passo o topo vai sendo vislumbrado. De forma que, em sentido figurado, chegar ao topo, representa sonho, conquista e ideal. Em síntese, a Ponte de Deus é uma formação rochosa, natural, que coroa o trekking de 4 dias na cordilheira do Rif, no norte de Marrocos. 

Essa impressionante formação rochosa adquiriu a forma de arco natural a 35 m de altura e conecta, pela arriba, as paredes da garganta sobre o Rio Farla. Assim sendo, através da ponte construída pelo rio ao longo dos anos, a natureza nos mostra que é preciso, e nos ensina a, construir pontes.

O trajeto até a parte superior da ponte 

Desde Akchour, seguimos, primeiro, ao topo da montanha com a finalidade de atravessa-la. Algo que carrega por si só, um simbolismo aplicável a viagem e a vida, de forma que aquele que conclui a travessia, não é o mesmo que a iniciara.

Tal qual a etapa anterior, o dia começa com belíssimas paisagens. No entanto, planas e com um horizonte de verdes cumes a serem vencidos, depois de encontros com a população local em meio a lida do campo. Enquanto isso, nosso guia segue a colher ervas, como a menta para o chá, por exemplo.

Dessa forma, o trajeto segue pela arriba numa caminhada leve mas, que exige o uso de bastões ajuda e propicia uma progressão mais rápida e acima de tudo, mais segura.

O trajeto até a parte inferior da ponte 

Retornando pelo mesmo trajeto até às margem do Rio Farda, o trilho segue leve e fresco. No entanto, já nas suas proximidades, exige mais atenção a progressão, num terreno de pedras lisas. Enquanto isso a luz dos raios de sol, revelam um cenário mágico com águas transparentes a contornar as pedras, cercado de verde, trilha sonora natural de pássaros e água corrente. Nesse sentido é preciso ajustar os ponteiros com os momentos de luz no estreito vale.

Em suma, empreender um trajeto é se dispor a viver momentos de sabor incomparável. Mas, acima de tudo, desfrutar da felicidade e crescimento que ocorre no percurso. E quanto a isso, a conclusão do trekking no Rif de 4 dias na Ponte de Deus, não podia ser mais significativa. Pois a representação de passagem, de transição de um estado interior para outro, aplica-se, especialmente sobre a bagagem de conhecimento a respeito dos povos berberes e a força dessa natureza. 

👣  km Etapa 4 – 4 

Nossas descobertas por Marrocos seguiram rumo ao sul do país, em direção ao deserto e de bicicleta, até os próximos trekkings pelo país. Como, por exemplo, os inesquecíveis trekkings na Gargantas de Todra e Gargantas de Dades. Além de belas caminhadas por autênticos e cinematográficos oásis como Skoura e Fint.

Portanto, vale a pena visitar os posts e assistir os video. E se gostou, não esqueça de partilhar e subscrever nossa newsletter e canal de vídeos.

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